Criar uma vaca em casa? Conheça os benefícios e desafios da agricultura urbana

Criar uma vaca em casa? Conheça os benefícios e desafios da agricultura urbana

Um dos principais processos da era industrial e do capitalismo foi o movimento migratório dos campos para a cidade – calma, este não será um post sobre sociedade e política, tá?

Em países desenvolvidos, o número de pessoas que vivem nas cidades supera, e muito, as pessoas que moram no campo. Soma-se a isso a dificuldade de manter pequenas propriedades, engolidas por grandes fazendas e indústrias. O jeito é procurar trabalho na cidade mesmo, deixando para trás o plantio e criação de animais.

Nos últimos anos, porém, as cidades estão passando por um movimento de união entre o ambiente urbano e o campo. A procura por produtos e ingredientes frescos, locais, criados com consciência ambiental e sustentável, levou pessoas a cultiravarem nos jardins de suas casas o próprio alimento. Não é difícil ter uma horta num apartamento, e esse movimento para um consumo mais consciente também está se voltando, agora, para a criação de animais.

Fazendas urbanas não são nenhuma grande novidade, mas conforme a quantidade de criadores e agricultores das cidades aumenta, isso levanta uma grande questão sobre a convivência entre a urbanização e a agricultura.

As coisas boas

Espaços como terraços e parques são utilizados para o cultivo de hortaliças e outros vegetais.

Sem dúvida, vegetais e animais criados em um ambiente longe das grandes fazendas e fábricas, amplamente industrializadas, resultam em produtos com melhor qualidade. Galinhas, cabras, coelhos, porcos e vacas criados livremente fornecem produtos bem mais saudáveis, sem falar no tratamento mais digno que recebem em sua criação – sem ficarem confinados em espaços apertados e sendo forçadamente alimentados.

Na agricultura urbana, não existem os problemas de logística que muitas vezes dificultam que o alimento chegue fresco no caminho do campo até a cidade. Os ingredientes estão ali, no alcance das nossas mãos, e podem ir da terra direto para a panela. Isso ajuda, também, a baratear os alimentos orgânicos, que podem chegar a custar 200% a mais do que os não orgânicos.

Sem falar na revitalização de terrenos e espaços da cidade. Sai o concreto, entra a grama, as árvores, o ar mais puro de um ambiente onde a natureza convive lado a lado com a urbanização. A agricultura urbana é uma forma de dar melhor uso a terrenos antes abandonados, aproveitando o espaço para produzir.

Os ovos coloridos que mostramos neste post (link) surgiram desse movimento: os pequenos produtores começaram criando galinhas nos jardins de casa, e vários transformaram esse “hobby” em negócio – mas mantendo o caráter artesanal.

Nova York, o maior centro urbano do mundo, é também um dos maiores produtores dessa agricultura feita em terraços e espaços abandonados. Grupos como o NYC Agriculture Collective atuam na educação e capacitação de pequenos fazendeiros urbanos, na discussão de políticas para incentivar a agricultura nas cidades e na coleta de dados sobre a geração de empregos e a produção desses negócios. Também pretendem ser um espaço de informação para quem quer se envolver mais com o cultivo em espaços urbanos.

Mas o ponto todo de morar na cidade não é estar longe do campo?

Cidades começaram a regulamentar a quantidade de animais e as condições com que são criados em locais urbanos.

Ao introduzir animais na agricultura urbana, algumas questões são levantadas. Plantas são silenciosas, mas animais não. Junto com ingredientes mais frescos, surgem o barulho e os odores, algo bem diferente do som que geralmente se ouve numa cidade – se bem que, vamos ser bem sinceros, entre o barulho de carros, alarmes, motos e aviões, o som de galinhas e vacas parece bem mais legal.

Além da questão da convivência pacífica entre fazendeiros urbanos e seus vizinhos, tem toda uma discussão também sobre a regulamentação da criação de animais nas cidades. Qual é o limite para os fazendeiros urbanos? Que tipos de preocupações com saneamento e processos ele deve ter? Essas questões foram abordadas em uma matéria da New Food Economy, que mostra como o governo norte-americano está lidando com o assunto.

Nos EUA, cidades e estados já estão se mexendo para regulamentar o que pode e o que não pode ser feito na agricultura urbana. Por exemplo: delimitam o espaço mínimo que uma residência deve ter para a criação de animais, estabelecem como deve ser o abatimento e limitam também a quantidade de animais que podem ser criados. As regras variam de cidade para cidade, mas esse processo já começou. Só falta se espalhar para o resto do país – muitos lugares não possuem leis ou regulamentações sobre a agricultura urbana, o que pode gerar vários embates judiciais e multas para os agricultores.

São Paulo: selva de pedra – e cultivo

São Paulo tem cerca de 6 mil agricultores urbanos dentro da região metropolitana.

Segundo um levantamento da Prefeitura de São Paulo, a região metropolitana da capital paulista tem seis mil pequenos produtores, a maioria deles concentrados na zona sul. Na região central, grupos estão usando praças abandonas para cultivar hortas e unir mais a comunidade de seu entorno.

É justamente na zona sul que fica a Fazu, uma startup de agricultura urbana que reúne diversos pequenos produtores. Além da capacitação, a startup compra os ingredientes produzidos pelos produtores, cuida da logística e da distribuição. Entre os seus clientes, estão restaurantes e condomínios.

Na zona oeste, o Shopping Eldorado aproveitou o espaço de seu telhado para cultivar uma grande horta urbana, utilizando restos da praça de alimentação para adubar a plantação – cerca de uma tonelada de lixo orgânico é produzida no shopping por dia. Além de conseguirem dar um destino melhor para o lixo produzido no local, ainda produzem verduras e legumes sem a utilização de agrotóxicos.

O telhado verde do Shopping Eldorado. Imagem: Tastemade.

Em 2018, o Ministério do Desenvolvimento Social criou o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana para fortalecer o plantio de hortaliças nas cidade. O objetivo é promover hábitos saudáveis e a segurança alimentar e nutricional, com foco inicialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Além de formalizar parcerias para promover a agricultura urbana, outro objetivo é conscientizar governos estaduais e municipais para desenvolver esse tipo de iniciativa em terrenos abandonados e públicos, utilizando-os para promover uma produção de alimentos mais saudável e sustentável.

E a criação de animais em áreas urbanas? As discussões aqui ainda não estão tão avançadas. Um projeto para liberar essa atividade foi apresentado em 2018 em Curitiba, mas ele recebeu diversas críticas do Laboratório de Bem-estar Animal da Universidade Federal do Paraná. Segundo o relatório, faltaria fiscalização, capacitação e condições para o bem-estar animal no ambiente urbano. O relatório, ainda, caracterizou o projeto como um retrocesso nas condições sanitárias que garantem a qualidade e segurança dos produtos.

Mas uma coisa é certa: criar uma horta, seja no quintal, na varanda ou até na parede da cozinha, não faz mal a ninguém. E nesse movimento de ser mais sustentável e ter contato mais próximo com produtores é possível encontrar um equilíbrio entre a cidade e o campo. A tendência, nos parece, é que a agricultura urbana continue a crescer.

a crudo é uma consultoria especializada no universo de hospitalidade, alimentos & bebidas. analisamos comportamentos e identificamos tendências para que nossos clientes ofereçam experiências únicas e relevantes.

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